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O sócio-administrador da VTCLog, Raimundo Nonato Brasil, afirmou em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (5) que o hábito da empresa de realizar diversos saques de dinheiro na boca do caixa visava custear despesas dos executivos e dos negócios da companhia.
Ao longo das investigações, a CPI da Covid apurou que a VTCLog movimentou, em transações consideradas atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), R$ 117 milhões nos últimos dois anos. Desse valor, quase R$ 5 milhões foram movimentados por Ivanildo Gonçalves, motoboy que trabalha a serviço da empresa de logística.
De acordo com senadores, somente neste ano foram sacados mais de R$ 2 milhões em dinheiro – a maioria das transações na agência da Caixa Econômica localizada no aeroporto de Brasília.
“Nossa empresa é uma empresa familiar. A gente faz um cheque, vai para o aeroporto, ou no banco, para pagar despesa da empresa, despesa dos sócios e despesa do nosso agronegócio. O cheque não é para ser sacado e levado para a empresa, jamais”, afirmou o sócio da VTCLog.
A VTCLog é responsável pelo armazenamento e distribuição de insumos de saúde, incluindo as vacinas contra a Covid-19. Conforme a CPI, desde 2018 a empresa recebeu cerca de R$ 400 milhões do Ministério da Saúde.
A comissão de inquérito apura a relação da VTCLog com o governo e se houve algum beneficiamento ilícito ao ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, exonerado em junho após ter sido acusado de cobrar propina para a aquisição de imunizantes. Senadores querem saber se boletos em nome do ex-diretor foram pagos pela empresa, o que Raimundo Nonato nega.
Durante a sessão desta terça-feira, o vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) ressaltou que dois desses pagamentos aconteceram nos dias 22 e 24 de junho – na mesma data, disse, em que o Ministério da Saúde fez a transferência de recursos para a VTCLog.
Versão contestada
Após a declaração de que o dinheiro vivo era usado para custear despesas, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), questionou, a razão pela qual os funcionários não recebem a remuneração por meio de transferência bancária.
“Os funcionários do nosso agronegócio, da nossa fazenda e outros funcionários solicitavam também receber em dinheiro. Está ok?”, respondeu o sócio.
O senador, então, ressaltou que essa é uma “prática totalmente em desuso” e perguntou se é compatível com uma empresa com contrato milionário com o Ministério da Saúde.
“Senhor relator, a empresa é familiar, uma empresa bem tradicional, bem familiar. Então, vamos tentar modernizar”, respondeu Raimundo Nonato.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), “é muito difícil acreditar nessa história”. Ele disse não poder aceitar a ideia de que a empresa de logística não tenha governança que torne desnecessário ter de enviar um motoboy para ir a bancos “para dar dinheiro para o sócio pagar a ração da fazenda”.
“Não há como caber na cabeça de ninguém uma ideia como essa. O que vem na nossa cabeça? Dinheiro retirado para, de alguma forma, beneficiar ou políticos ou funcionários ou quem quer que seja que possa, de alguma maneira, ter ajudado a VTCLog. A minha expectativa é que o Ministério Público nos dê essas respostas”, afirmou Costa.
Informação: g1
